domingo, 4 de abril de 2010

O EITO


O EITO

Um dia a quinhentos anos atrás
Encontrei num canto estreito
Um fremoso e desgastado Eito
Abandonado pela fúria dos temporais
Porém vida ainda tinha


Pus meus pés descalços
Chafurdei naquele leito vagabundo
Submundo de marés anteriores
Moribundo de inconstâncias e dádiva

Deixei que meu corpo sentisse
Do eivado Eito o visgo pegajoso
Fui ao chão!
O visgo denso fazia cada parte
Chafurdada querer mais ser profanada

Não bastou, pensei:
Quero mais!
Resolvi por meus seios nus
Em contato direto com aquele chão

Pele branca esfolada se fazia...

Foi nessa hora que algo grotesco aconteceu:
Eu me via despedaçada
Carne humana degredada
Ali perdida vida-partida!

Cada parte do meu corpo
Em pedaços estava
O Eito sujo a minha boca beijava
E o resto do corpo, deflorava

E cada vez que eu corria em partes
Algo dentro de mim morria
Mais profundo o leito do Eito ficava
Corria eu então desesperada
A modo de juntar as partes esquartejadas

Passaram-se sete dias nessa agonia
Até que o Eito foi recomposto pela chuva tropical
E derrepente ao olhar pr’um canto
Vislumbrei um olho d’água
Abaixei e provei como encantada...
Era água salgada!

Não resisti, fiquei tentada
Novamente fui ao chão!
C’ôa boca posta em brasa
Sorvendo cada milímetro
Daquele PH de água brotada!

Um comentário:

  1. meu poema preferido, gosto muito desse poema porque fiz numa fase muito intensa e traduziu em parte a outra parte de mim.

    Giselle por ela mesma!

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